Na Floresta do Alheamento


"Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê... Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho."

Livro do Desassossego por Bernardo Soares

Bebido o Luar...

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Visita-me...




Visita-me Enquanto não Envelheço

visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos

antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro

perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te

Al Berto, in 'Salsugem'








A verdade...



"Os homens não conhecem o que conhecem os deuses. O que, às vezes, os homens consideram como uma

verdadeira desgraça, nada mais é que um verdadeiro bem para seu aperfeiçoamento moral".

Sócrates

Inter-Sonho...

Inter-Sonho


Numa incerta melodia

Tôda a minh'alma se esconde

Reminiscencias de Aonde

Perturbam-me em nostalgia...

Manhã d'armas! Manhã d'armas!

Romaria! Romaria! . . . . . . . . . . . . . . .

Tacteio... dobro... resvalo... . . . . . . . . . . . . . . .

Princesas de fantasia

Desencantam-se das flores... . . . . . . . . . . . . . . .

Que pesadêlo tão bom... . . . . . . . . . . . . . . .

Pressinto um grande intervalo,

Deliro todas as côres,

Vivo em roxo e morro em som...


Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'

Be...


"Experience life in all possible ways — good-bad, bitter-sweet, dark-light, summer-winter. Experience all the dualities. Don´t be afraid of experience, because the more experience you have, the more mature you become."
Osho